Melhor sono, melhor imunidade

Por Monika Haack

Sempre me senti fascinada pela sabedoria convencional e pela experiência pessoal de que o sono ajuda a combater infeções. E não é interessante que, por outro lado, não dormir o suficiente nos torna mais suscetíveis a ser infetados? Algo acontece durante o sono que torna o sistema imunológico mais forte ou mais eficaz na luta contra vírus e outros agentes patogénicos.

COMO O SONO TEM UM IMPACTO POSITIVO NA IMUNIDADE

Muitos estudos realizados em animais nas últimas décadas mostraram claramente que o sono ajuda um animal a sobreviver a uma infeção. No ser humano, as hipóteses de ser infetado com vírus respiratórios, por exemplo, são muito maiores quando o  sono é curto (geralmente menos de 6 horas por noite) ou se  sofre de insónia. Um sono curto ou não dormir de todo durante uma noite leva também a resposta mais baixa dos anticorpos à vacinação contra a gripe, por exemplo.

Em algumas pessoas, a resposta de anticorpos é tão baixa que elas não ficam suficientemente protegidas contra o vírus. Efectivamente, um bom sono antes e depois da vacinação ajuda a desenvolver uma forte resposta de anticorpos contra agentes patogénicos.

Existem diferentes formas de o sono apoiar a imunidade. Uma delas é que o sono protege contra o desenvolvimento de inflamação de baixo grau. Se os marcadores inflamatórios aumentarem no corpo, como foi verificado com o sono curto ou perturbado, várias células do sistema imunológico são muito menos eficazes no combate aos vírus e outros agentes patogénicos.

Existem também muitas hormonas - como o cortisol, a melatonina ou a epinefrina - que podem suprimir ou promover a inflamação. A secreção dessas hormonas pode ser circadiana ou dependente do sono, sendo esta outra forma do sono afetar a defesa contra um agente patógenico. Também há evidências recentes de que o sono promove a otimização funcional das células T. As células T são uma espécie de glóbulo branco essencial para o sistema imunológico. Se a pessoa não dorme, as células T têm dificuldade em se ligar às células infetadas por vírus e, consequentemente, não conseguem destruí-las como deveriam.

ESTUDAR O SONO E O SISTEMA IMUNOLÓGICO

Geralmente, os investigadores manipulam experimentalmente a quantidade de sono, privando completamente os animais ou participantes humanos  de sono ou reduzindo a sua quantidade, na maioria das vezes para 4 horas por noite durante uma ou mais noites. Isso pode ser feito (e tem sido feito) antes e / ou após a exposição a um vírus ou vacina para estudar como é que as células privadas de sono respondem a essedesafio. Além de estudar as respostas imunológicas, também examinamos o desenvolvimento de sintomas clássicos de doenças - como fadiga ou dores no corpo - quando não dormimos.

Outra questão importante é a recuperação. Há cada vez mais dados que sugerem que a recuperação de processos biológicos resultantes de sono insuficiente pode demorar mais. Também existe atualmente metodologia através da qual  o sono de ondas profundas ou lentas pode ser intensificado por meio de estimulação acústica. Acredita-se que o sono de ondas lentas seja o estadio do sono mais importante  para as ações de suporte imunológico do sono. Tudo isso visa estreitar a conexão entre sono e imunidade.

Por causa do COVID-19, 2021 provavelmente continuará a ser um ano com elevado risco de infeção, e também um ano em que milhões de pessoas serão vacinadas. Embora ainda não haja muitos dados específicos sobre o sono e a infeção por COVID-19, é muito provável que dormir o suficiente na fase de infeção possa reduzir a sua gravidade  e promover uma recuperação bem-sucedida.

E, no caso da vacinação, um bom  sono provavelmente aumentará a proteção clínica, como vimos com outras vacinas. Uma questão importante é também o papel do sono naqueles indivíduos que não recuperam da infeção. Para aqueles que continuam a sofrer de fadiga, dores no corpo, dores de cabeça e outros sintomas de doença muito depois de o vírus estar sob controle, eu gostaria de ver dados sobre o sono nesses doentes de longo curso.. Talvez  intervenções no sono pudessem ajudar a recuperar esses sintomas mais rapidamente.

TOMAR MEDIDAS

Espero que as pessoas compreendam que podem assumir o controle de sua própria saúde imunológica, mudando o comportamento e reservando mais tempo para dormir de modo a que o sistema imunológico possa funcionar da melhor forma. Nos adultos isso significa 7 ou mais horas de sono por noite sem perturbações, com horários regulares de deitar e acordar. Na verdade, acho que muitas pessoas já sabem disso, mas não o fazem porque as mudanças comportamentais geralmente são difíceis de fazer e manter. Vamos escolher melhorar o nosso sono para melhorar a nossa imunidade.

Monika Haack, PhD, é Professora Associada de Neurologia na Escola de Medicina de Harvard Beth Israel Deaconess Medical Center, que trabalha na área de medicina do sono e  investigação há 18 anos.

Healthier Sleep Magazine

 

   

Subscreva a nossa newsletter!

© 2020 Associação Portuguesa de Sono

Contactos:
Rua João da Silva, n.º 4 C 1900-271 
Lisboa, Portugal 
Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.| (+351) 211 316 527

Membro associado da