O sono desempenha um papel importante em todas as fases da nossa vida, desde o período em que estivemos aconchegados no útero da nossa mãe, passando pelas fase de crescimento e desenvolvimento intensos da infância ou de turbulência da adolescência até à vida agitada da idade adulta e às rugas e cabelos brancos da 3ª idade.
Esta importância deve-se à multiplicidade das suas funções, entre as quais se salientam a conservação de energia, o restabelecimento dos vários sistemas orgânicos, a regulação da temperatura corporal e da imunidade, e sobretudo a promoção de funções cognitivas. Cada uma das funções tem a sua base, essencialmente, numa das fases do sono. Este distribui-se ao longo da noite em vários ciclos, cada um destes constituído por um período de sono NREM e outro de sono REM (Rapid Eye Movements).
O sono NREM ajuda-nos a recuperar as energias e é nesta fase que se produz a hormona de crescimento. Durante o sono REM, para além de sonharmos, arrumamos as ideias, sedimentamos os conhecimentos adquiridos e ficamos com “espaço”para pensar e nos abstrairmos de forma mais fluida no dia seguinte.
Durante a infância, período de intenso crescimento e maturação do sistema nervoso central, a sequência adequada e a duração das fases do sono desempenham um papel essencial na aquisição das funções cognitivas. Recentemente, numerosos estudos se têm debruçado sobre a relação entre o sono e a capacidade de aprender, demonstrando que a capacidade de memorização e de abstracção, a criatividade e fluência verbais são prejudicadas pela redução e qualidade do tempo de sono. A investigação também sugere que o compromisso infligido pelo défice de sono é tanto maior e mais prolongado quanto mais jovem for a criança.
As razões para que a criança ou adolescente não tenha um sono na quantidade e/ou com a qualidade necessárias à sua idade são várias e habitualmente vão-se somando à medida que aumenta a idade da criança, indo desde a sobrecarga de trabalho escolar ou actividades extracurriculares, excesso de tempo dedicado aos equipamentos eletrónicos até à pouca organização dos horários familiares. Na adolescência, a estes factores acresce a tendência natural para o atraso do período de sono, isto é, da hora de ir para a cama (mais tarde) e de acordar (mais tarde). Como as obrigações escolares obrigam a que o adolescente não se possa levantar mais tarde durante a semana e a compensação do tempo de sono efectuada ao fim de semana nem sempre é suficiente, o jovem fica em privação crónica de sono.
Este défice de sono pode traduzir-se por dificuldades de concentração e aprendizagem, problemas de comportamento, cansaço e instabilidade emocional; nas crianças mais novas o comportamento hiperactivo e nas velhas, a sonolência, a agressividade e tendência para o risco são frequentes. Se estes sinais não são reconhecidos e valorizados pelos pais como secundários ao sono em falta e não for tomada alguma medida, o problema poderá tornar-se persistente.
Este problema tem sido objecto de múltiplos trabalhos e como exemplo refere-se um estudo efectuado, nos Estados Unidos em 2014, a mais de um milhar de crianças e jovens dos 6 aos 17 anos. Neste estudo verificou-se que:
e que algumas das consequências eram:
Com o início do ano lectivo está na hora de ajudar o seu filho a disciplinar os horários de sono e a contribuir para o seu sucesso escolar.Ensine o seu filho que fazer uma boa noite de sono na véspera de um teste dá melhores resultados do que estudar até altas horas ou fazer uma “directa”.
Consulte, no esquema da National Sleep Foundation de 2015, o tempo de sono mais adequado ao caso do seu filho, tendo em consideração que há variações individuais.
Idade |
Tempo Recomendado |
0-3 meses |
14 a 17 horas |
4-11 meses |
12 a 15 horas |
1-2 anos |
11 a 14 horas |
3-5 anos |
10 a 13 horas |
6-13 anos |
9 a 11 horas |
14-17 anos |
8 a 10 horas |
18-25 anos |
7 a 9 horas |
Maria Helena Estêvão
Pediatra com Competência em Medicina do Sono
Início do ano lectivo 2016-2017